sábado, 11 de novembro de 2017

Tinha um wormhole no cantinho.

Já havia algum tempo desde minha última visita terapêutica com árvores. Em uma breve jornada induzida acidentalmente, finalmente conheci a árvore-mãe. Todas as respostas se encontram suspensas das leis terrestres e sensoriais em um jardim isolado por um portão branco - localizado no entre das coisas. Ao passar pelo portão da abscência, percebo que a equipe agora é multidisciplinar! Sou recepcionada por singelas florzinhas amarelas - funcionárias mais acessíveis e contratadas especificamente para atender seres humanos repetitivos em busca de respostas clichês. 

Após classificar a pergunta corretamente, a florzinha ao lado da porta vermelha conta que é tempo de confirmações. É tempo de nomear todas as repetições sem nome! Tempo de conhecer o depois dos caracóis que não levaram o pisão de misericórdia. A resposta para sua pergunta é que você está no caminho certo. Podia ter só continuado caminhando, inclusive. Se já é sabido que não se fabrica coturnos em forma de raíz, por que raios insistir em ignorar a porra da intuição? Jardins atemporais são para árvores, caminhos são para seres humanos. Não é necessário gastar seu tempo ouvindo aqueles que não estão dentro de você.

A palavra-chave é: continue.
Em outras palavras: só bóia, fdp.

Continue introjetando sentido em tudo que é buraco da vida.
A plenitude do medíocre se encarrega de acontecer sozinha.


terça-feira, 31 de outubro de 2017

O apanágio da apostasia

Após sobreviver o despertar de todos os dias no absurdo, abandonamos a criptobiose pra subir a escadaria em direção à apostasia. Metamorfose influenciada e ironicamente ignorada, validada por um fio através da representação da sujeito principal - salva apenas pelo significado.

Um louva-a-deus mecânico no céu e borboletas gigantes nos postes aliviam a paisagem entre pessoas que ainda falam sobre sardas. Gente incapaz de compreender desacontecimentos e inexistências. Coma suas beterrabas. Faça seus relatórios. Aceite-se como uma das criaturas primitivas que ainda funcionam a base de combustíveis nocivos. Mas funcionam. Você não questiona, você faz porque sabe que é necessário. And so what if it KILLS you? Be a goddamn man, boy.

Me sinto um computador preso num corpo de calculadora.

Esses dias, tirei uma aranha branca de uma colega que não tenho certeza se estava realmente lá. Enquanto o fazia, desejei ter o poder de me transformar em uma escavadeira. Sei que continua tudo normal aí fora pois já estive aí também, sei que é melhor parar. Aos principiantes ou desavisados: só estou transcendendo. Então mostrem suas melhores cartas! Aqui, o absurdo é o novo brilhante.

Existem estragos tipo tsunami, existem estragos tipo maré alta: desestabilização programada. Negação parcelada até o chão se tornar seguro. Olhos grudados e um peito queimando laranja às 3h da manhã. Um incêndio no museu do que já foi, cemitério do que virá. O passado e o futuro são abstrações. Me permiti existir em uma localização virtual e a lixeira está prestes a receber o clique do botão direito.

Me acondicione numa bela redoma, por obséquio. Faça uma exposição com várias lâminas de sentido fatiado e pule as partes da pirâmide. A receita da distração com realização pessoal é simples: pegue o que você não entende e todo o resto que entala no peito. Faça uma bolinha, enfie no cu, vire do avesso e voilá, você fez uma peteca. 

Run, rabbit run! 
Dig that hole, forget the sun.
And when at last the work is done...
Don't sit down, it's time to dig another one.

E assim terminamos outubro,
vivendo no cantinho.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Sugar

Tudo o que tenho pra falar é escroto. É vergonhoso, é nudez adolescente, é cringe. Mas não há ninguém que dê mais valor a expressão e sinceridade. Tudo deve ser expressado - se não possível de uma forma, de outra. Saber o que tu tá fazendo e como funciona não anula a necessidade de falar. Essa coisa grotesca aqui dentro precisa sair ou vai começar atacar a mim mesma e já tenho experiência suficiente pra saber que vai dar merda. Elaboração invisível e abstrata me consome por dentro. Não vou voltar pra lá. Gostei de ser relativamente feliz de novo por um tempo e não quero que isso acabe. Não me faça calar a boca. Sentir em silêncio é torturante demais. É assim que se faz justificativa pra um artigo, que era o que eu devia estar fazendo. Porque tudo que faço precisa de justificativa. Em tudo eu incomodo e preciso de licença clara pra existir.

Esse emaranhado de tudo e nada acontecendo simultaneamente. Um ser que confunde a si mesmo e não consegue optar por uma informação além daquela única certeza que não teve princípio. Eu não conecto com pessoas com facilidade, eu não tenho interesse, eu não pertenço a lugar nenhum. Eu odeio todo mundo pelas menores coisas e prefiro ficar sozinha. Os meus compatíveis são poucos e estão muito bem escondidos, assim como eu. Mesmo acompanhada, sempre vou estar sozinha. A base da satisfação do meu mundo interno é estar conectada de forma profunda com algo eu valorize demais. E que merda quando a chata consegue encontrar encaixe em todas as chatices. Que merda. O inimigo do bom é o melhor e além de ser impossível, se recusa a voltar ao tamanho original.

A vida é única e meu maior conflito é amá-la demais, querer ser imortal ao mesmo tempo em que fortemente desejo morrer e ir embora de todas as coisas. A mente é uma prisão que exige que tu passe por todas as etapas e eu me debato por querer sair de dentro dela. Eu tinha encontrado algo mais forte do que a minha vontade de ir embora. Significado? Check! Mas e felicidade? A essa altura sinto que só encontro sentido na vida novamente indo plantar brócolis em uma viagem de só ida pra Marte. Tudo e todos são uma merda, mas aquilo que importa sempre é imune.

O simples é adquirido no seu próprio tempo. Não adianta, não existe livro ou tutorial pra isso. Tem que ser pela própria vivência. Tenho aversão por qualquer tipo de spoiler e não sinto o gosto a não ser pelas minhas próprias conclusões. Tem coisas que são feitas só pra sentir e não pra filosofar. Levei 8 anos filosofando pra chegar até aí. Mas a minha verdade é só minha. Me sinto triste por isso, enfim. O piloto automático do "I'm not usually like this" parece ter tomado o trono da permanência. "But every Icarus has had his chance to turn. It's not for everyone to touch the sun."

A Brenda do cérebro de cima tá que nem uma batata olhando pra um buraco e se negando a pular. Take your time, mas eu estou com pressa. Enquanto ela viaja na maionese, aqui tá tudo fragmentado e solto num espaço onde nada se alcança. Tá bizarro. As coisas vão ter que se resolver aqui por baixo mesmo e torço pra que passem a ser uma só de novo. Ter vergonha da condição humana jamais deve ser motivo de censura. Não é bonito, não é palpável. É somente aquilo que é.