terça-feira, 6 de setembro de 2016

Never surrender

Já tinha decidido há algum tempo que não iria mais escrever sobre esse tipo de coisa, porque minha psicóloga dizia que eu ruminava coisas até transformar em um monstro muito maior do que era. Mas ignorar não me trouxe nenhuma mudança. Fingir que nada tá acontecendo não adianta quando tu não tem pelo menos um pézinho já com força suficiente do outro lado. Meu cérebro tá burro pra escrever, mas minha percepção do que sinto ainda continua a mesma filha da puta de sempre, atenta e ciente de qualquer merdinha microscópica.

Ontem voltando de viagem fui preenchida novamente pela sensação boa que te faz dar conta que tu tem o mundo todo nas mãos em oportunidades. Passei por lugares que gostaria de trabalhar, faxinei a casa de cima a baixo, desenterrei meu violino, ganhei cinco partidas seguidas no LOL, decidi que ia fazer x coisas. Parece que tudo estava alinhado novamente, completo, contendo a compreensão de todo o passado e futuro... Tudo isso pra hoje levar três horas pra conseguir levantar da cama. Faltar aula de novo. Tudo é custoso. Tudo é longe. Tudo é caro. Tudo é inalcançável. Só fica o desconforto, a inércia e o desperdício. 

Lembrei da cena "no, no, never surrender" do Rorschach e decidi que precisava ao menos me alimentar. Gosto de me apoiar nessa cena. Vou cortar batatas e tudo o que sinto são meus braços doendo e a vontade de me derreter. Ficar por ali mesmo, só trocar a cama pelo chão da cozinha. Me sinto assim há cinco anos. Mas nunca vou me entregar, nunca vou ficar pior do que já estive um dia. Enquanto isso continuo levantando sem ter motivos pra levantar. Talvez em um dos momentos em que me sinta bem eu tome alguma atitude que mude alguma coisa. Talvez um desses momentos dure um período maior. Talvez a Terra seja invadida por alienígenas. Talvez algo saia do normal como saiu há cinco anos atrás e eu me veja presa novamente em um lugar que não consiga sair, mas dessa vez um lugar bom.


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